A essência da liderança

Nas livrarias e na internet podemos encontrar centenas de títulos de auto-ajuda que prometem mudar nossas vidas e ensinar como podemos nos tornar líderes mais eficientes. Muitos deles estão entre os mais vendidos.

Entre os livros de administração, a maior parte diz respeito à gestão de empresas privadas.

Podemos também assistir centenas de pequenos trechos de palestras e reportagens sobre gestão e liderança no Portal Youtube.

Cada palestrante ou autor trazem  pontos de vista diferentes sobre os conceitos mais consagrados de gestão. Alguns fazem truques de mágicas para cativar o público, outros contam piadas e estórias engraçadas. Alguns contam suas histórias vencedoras como atletas e treinadores. As estórias contadas por Oscar, Felipão e Bernardinho emocionam porque trazem exemplos de superação e do trabalho em equipe.

Há também dezenas de filmes que nos fazem refletir sobre nossas vidas e ensinam por meio de roteiros bem elaborados o poder do sonho, da liderança e da visão. Filmes que mostram as idéias e as vidas de Gandhi, Luther King e Nelson Mandela são interessantes para todos os aprendizes de liderança. Filmes como Invictus, Coração Valente, Gladiador, A procura da felicidade e Duelo de Titãs são obras imperdíveis.

Podemos encontrar também entrevistas com grandes nomes da administração. Vale a pena assistir vídeos sobre Peter Drucker, Jack Welch, Chiavenato, Steve Jobs, Bill Gates, Jorge Gerdau, Luis Seabra, César Souza,  entre tantos outros.

Para aproveitar melhor os vídeos é importante desenvolvermos cada vez mais nossa capacidade de compreender em inglês (listening).

No youtube podemos assistir aulas de professores brilhantes de Harvard, Oxford e de outras renomadas instituições sobre liderança

A partir de experiência pessoal, dos livros e filmes podemos confirmar que os verdadeiros líderes desenvolvem, influenciam e inspiram outras pessoas a partir de uma conduta ética e de uma visão inovadora. Esses líderes têm a consciência de que são as pessoas as responsáveis pelos resultados das organizações.

Segundo César Souza, um dos escritores e consultores mais consagrados da área, os líderes mais competentes são integrais:  “Eles lideram além de suas instituições, oferecem uma causa inspiradora, lideram não só para baixo, desenvolvem novas lideranças, educam pelo exemplo, pelos seus valores e surpreendem pelos resultados além do esperado. O verdadeiro líder não esquece de suas famílias e é líder em várias dimensões da vida. Se preocupam mais com as pessoas e menos com os processos.”

Compreendemos que na administração pública e mais especificamente na gestão dos institutos federais precisamos adaptar os discursos e conceitos sobre liderança.  Sejamos membros de instituições públicas ou privadas temos em comum as pessoas. São as pessoas que fazem a diferença.

E se são as pessoas as responsáveis pelos resultados da instituição, então elas precisam ser desenvolvidas e precisam ser bem tratadas.  Todos gostam de trabalhar em um ambiente agradável onde valores éticos norteiam a conduta dos colegas e dos dirigentes. Todos gostam de trabalhar em ambientes onde há alegria.

Os gestores dos institutos federais tem a responsabilidade de desenvolver novos talentos e criar meios para o trabalho colaborativo.

Em uma formatura do campus São José ficamos orgulhosos ao ler uma mensagem dos estudantes: “quem não gosta de estudar nunca estudou no campus São José”.  Os estudantes aprendem enquanto convivem com seus amigos e aprendem melhor quando estão felizes.

Os estudantes e servidores dos institutos federais necessitam de espaços saudáveis de convivência. Necessitam sentir se parte do processo decisório. Temos convicção que isso tem efeito positivo no processo de ensino-aprendizagem. Professores e administrativos motivados fazem a diferença.

Os líderes estão cada vez mais percebendo que precisam desenvolver as próximas lideranças. Muitas instituições já implantaram universidades corporativas.  Nos institutos federais o número de servidores próximos a completar 5 anos de trabalho é próximo de 50%. São esses profissionais que assumirão os cargos de Direção dos institutos federais nos próximos anos. Os atuais gestores possuem a responsabilidade de desenvolvimento desses futuros gestores. Todos nós podemos aprender mais sobre liderança.

Se temos a clareza de que são as pessoas que fazem a diferença então é evidente que os líderes precisam entender cada vez mais de gente. Não basta conhecerem bem de processos e de tecnologia. Cada vez mais são necessários aos líderes conhecimentos básicos sobre filosofia, psicologia, antropologia e sociologia. É preciso saber o que as pessoas precisam e desejam. Quais são as necessidades que podem ser satisfeitas no trabalho? Como as teorias de Maslow podem ser úteis para que os líderes possam contribuir para a satisfação das necessidades dos liderados?  Como utilizar os estilos de liderança mais apropriados para cada momento (liderança situacional)?

Cada ser humano é único e especial. Cada um sabe a grandeza de seus sonhos e problemas.

Costumo convidar meus estudantes à reflexão:

Peço para que eles pensem no Sol. O Sol é uma estrela de quinta grandeza e isso significa que diversas estrelas que enxergamos no céu podem ser maiores que ele. A Terra é centenas de vezes menor que o Sol. Nós somos como formigas comparados com a Terra. Então imaginemos nosso tamanho no universo. Nossos problemas não podem ser tão grandes. Mas mesmo tão pequenos temos consciência de nossa existência e somos únicos. Somos tão pequenos e tão especiais. E esse é um paradoxo interessante. Temos a capacidade de sonhar: “Somos do tamanho de nossos sonhos”.

Sonhar é da essência humana. Dizem que devemos sonhar grande porque o trabalho é o mesmo que sonhar pequeno.

Se o segredo da liderança está na compreensão das necessidades das pessoas então é interessante saber que todos nós temos condições de desenvolver nossas habilidades enquanto líderes. Porque somos seres humanos! Mas para isso é fundamental desenvolver nossa autoconsciência.

Precisamos conhecer quais são nossos pontos fortes e fracos, quais são nossos sonhos, expectativas e necessidades. Qual nosso propósito de vida? Isso é que o filósofo Mário Cortella pergunta em um de seus livros: Qual a sua obra? O que é o sucesso para nós? Muitos querem liderar outras pessoas mas não lideram nem mesmo suas vidas, não se conhecem. O grande sábio grego Socrátes dizia há mais de 2 mil anos: “Conhece te a ti mesmo”.

Quais são nossos sonhos para o futuro. Estamos agindo para concretizar nossos sonhos?  Destacamos um texto sobre visão de futuro:

O escritor César Souza realizou um trabalho interessante: ele estudou e cruzou informações sobre as características de centenas de líderes que atuavam em grandes empresas e em pequenos negócios. Segundo ele, as pessoas pensam nos líderes como seres fora de nossa realidade. Esse é um grande erro. Há líderes  em todos os lugares. César Souza percebeu também que a maioria dos livros sobre liderança foram escritos por homens e retratam homens como exemplos líderes.

Em seus livros ele apresenta diversos casos de mulheres de destaque na sociedade tais como Zilda Arns, Irmã Dulce entre outras.  “Liderança não é cargo e não é decorrente de carisma”. Para compreender mais sobre suas idéias, recomendamos o livro: “Você é o líder de sua vida ? ” Também é possível assistir a série disponível no Youtube sobre Lideres em Ação.

Pessoas comuns, homens e mulheres, podem ter estórias extraordinárias para contar. Elas mudam o mundo em sua volta. E isso muda o mundo.

E você? Qual a sua estória? Você inspira seus estudantes? Inspira seus colegas a serem pessoas melhores? Inspira sua família?  Há pais que perdem a oportunidade de influenciar a educação de seus filhos. Estão tão ocupados com seu trabalho que se esquecem que seus filhos precisam de sua orientação.

Um detalhe interessante sobre liderança é que o número de mulheres ocupando funções importantes cresce a cada dia.

As meninas são maioria hoje na última série do Ensino Médio e em diversas universidades. E por que as mulheres estão se saindo tão bem nesse universo? Porque elas sabem se relacionar melhor, se comunicam melhor, são mais detalhistas e cuidam melhor das pessoas. E as pessoas fazem a diferença.

Entendemos que precisamos juntar as competências dos homens e das mulheres. Imagino que desde a época das cavernas os homens se especializaram nas estratégias para a caça em grupo (resultados de curto prazo) e as mulheres se especializaram na proteção da prole (processo). Precisamos dessas duas competências juntas na gestão.

A caminhada para se atingir o topo da montanha é tão importante quanto o alcance do objetivo.

Na minha juventude aprendi uma frase importante para minha vida: “os jovens querem mudar o mundo, mas não querem arrumar o próprio quarto. Para mudar o mundo é preciso primeiro mudar o mundo à nossa volta.”

Mais tarde na Rio 92 uma frase parecida ficou famosa: “devemos pensar globalmente, mas agir localmente.”

Não podemos ficar esperando que a solução para nossos campi e escolas venha de fora delas. Nós temos que fazer a nossa parte modificando tudo aquilo que está a nossa volta. Se cada um fizer a sua parte a mudança do todo fica mais próxima.

No meio empresarial há profissionais muito valorizados na seleção de pessoas. Eles são chamados de caçadores de talentos: os headhunters.

E como isso se aplica nos institutos federais?

Penso que são os docentes os primeiros que precisam estar preparados para identificar e desenvolver novas lideranças entre os seus estudantes. E novos líderes são mais do que importantes para o desenvolvimento de nossas cidades. O que percebemos em muitas cidades é o domínio de famílias tradicionais na gestão de prefeituras e governos. Maridos, esposas, irmãos e filhos ficam se revezando no poder como se fossem membros de uma dinastia. Esse não é o princípio da democracia.  A alternância sim é o princípio. Nossos jovens precisam ser preparados para o exercício de uma nova liderança. Precisam estar preparados para ocupar espaços e quebrar os esquemas existentes.

O problema é que muitas escolas são especializadas em matar talentos. Basta o estudante ser um pouco diferente para ser enquadrado como problemático. Muitas vezes estamos diante de futuros líderes que precisam ser identificados e desenvolvidos. A maioria dos docentes não está preparada para lidar com alunos que tem personalidades mais fortes.

Nesse contexto, lembro-me bem de um estudante muito ativo e crítico do campus São José. Ele vivia em conflito com os seus professores, que o classificavam como uma pessoa difícil. Hoje esse jovem é um líder bem sucedido na cidade de Curitiba. Lembro-me de dezenas de casos como este, de jovens que se tornaram empresários (as) de sucesso, cidadãos (ãs) respeitados (as) e que hoje fazem o recrutamento de nossos alunos. São quase 20 anos acompanhando as carreiras dos egressos.

Analisando as aulas de 20 anos atrás percebemos que houve pouca mudança. Uma parte considerável dos professores ainda estão preocupados com a quantidade de informações e no cumprimento de extensos planos de ensino. Na era da internet o que precisamos é ensinar os estudantes a pensarem. A relacionarem fatos. A experimentarem.

Para ilustrar esse fato estou disponibilizando uma entrevista com Rubem Alves . Ele foi marcante em minha formação com um livro simples: “Estórias de quem gosta de ensinar”.  Vale a pena conhecer suas idéias ainda inovadoras sobre educação.

As escolas deveriam ser espaços conscientes de formação dos líderes do futuro. Mas o problema é que a concepção de nossas salas de aulas e a forma como a maioria dos docentes ensinam não favorecem a interação e a participação dos estudantes. Não favorecem o desenvolvimento de estudantes ativos e senhores do próprio aprendizado.

Compreendo que o exemplo possa ser um pouco infeliz, uma vez que ainda temos 13 mil escolas brasileiras sem energia elétrica (site do MEC), mas pesquisei um pouco sobre a forma com que a Harvard University organiza seus cursos. Para os que não sabem Harvard é uma das mais importantes instituições do mundo na área de gestão. São aproximadamente 9000 candidatos de todos os lugares do mundo para 900 vagas. Lá os estudantes são orientados a estudar antes das aulas a partir da leitura de casos concretos. A informação que todos precisam está disponível. Todas as provas anteriores estão arquivadas na biblioteca.

Entrevista com professora de Harvard

Durante as aulas os professores fazem a discussão dos assuntos e todos têm a oportunidade de confrontar as teorias apresentadas.

Após as aulas os professores orientam os estudantes em pequenos grupos. Em diversas situações atendem os estudantes de forma individualizada. A educação é praticamente customizada. Os resultados são os melhores possíveis. A maioria dos estudantes são vitoriosos em suas carreiras.

Sabemos que Harvard é uma referência mesmo para os países desenvolvidos.

Mas seu exemplo é para lembrar que a internet e as bibliotecas disponibilizam a maior parte das informações que os estudantes precisam. Os alunos já podem se antecipar estudando antes. O precioso tempo de contato entre os alunos e professores poderia ser melhor aproveitado. Poderia existir mais debates e mais discussão crítica sobre os problemas apresentados.

Os professores e os pais são os primeiros exemplos dos estudantes. São seus primeiros líderes. Tenho em minha memória grandes mestres que me motivaram na hora certa.

Necessitamos disseminar cada vez mais os conceitos da liderança entre os profissionais da educação. Se professores e demais profissionais da educação forem bem preparados serão melhores líderes para seus estudantes e serão também melhores administradores das suas escolas. E as escolas precisam de lideranças e não de chefias.

O mundo está mudando cada vez mais rápido e nem todos estão percebendo esse processo. A liderança autocrática foi consagrada após o sucesso das tropas dos Aliados na II Guerra Mundial e foi adotada nas indústrias e escolas. Na sociedade do conhecimento a comunicação flui muito rapidamente e flexibiliza a hierarquia. Nos dias atuais um aluno pode enviar uma mensagem diretamente ao Reitor e receber dele a resposta em tempo real.

Os estudantes da era da internet são capazes de relacionar grande quantidade de informações e se comunicam de forma muito ágil com pessoas do mundo todo. Falam fluentemente dois ou três idiomas. Desse universo serão forjados os líderes do futuro.  As barreiras da comunicação estão sendo superadas. Cursos de idiomas estão disponiveis gratuitamente na internet e isso facilita muito o aprendizado. Não podemos esquecer que a linguagem da internet é o inglês.

Vivemos uma fase de transição. Precisamos aproveitar essa oportunidade trazida pela transição do modelo autocrático para o modelo de gestão participativo e capacitar cada vez mais alunos, servidores docentes e administrativos para o exercício da liderança ética e servidora.

O grande educador Paulo Freire nos ensinou que a educação não muda o mundo. Ela muda as pessoas. As pessoas mudam o mundo.

Precisamos cada vez menos de chefes e cada vez mais de líderes que inspirem seus colegas e estudantes.

Chefes se preocupam mais com processos e resultados do que com as pessoas. Gente precisa de motivação e de um ideal. Gente precisa se identificar com a missão da instituição.

Nos institutos federais brasileiros temos uma grande missão: transformar para melhor as vidas de milhões de estudantes brasileiros por meio da educação profissional e tecnológica.

Penso que não há missão mais nobre e inspiradora do que esta.

Atenciosamente,

Prof. Jesué Graciliano da Silva
Reitor pro tempore do IF-Farroupilha

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